Christof Migone | Sonic Somatic: Performances of the Unsound Body

Conferência na FBAUP – 13.Out.2011

Como performer e artista plástico, Migone é já conhecido pela relação que institui entre o corpo e o som. Os seus projectos artísticos têm como característica a experimentação áudio, quer seja através da tecnologia que lhe é inerente (analógica e digital, sem alterar a essência da captação original), quer seja pelo impacto provocado nos seus espectadores e “ouvintes”, em peças que nos conseguem hipnotizar pelas suas repetições e obsessões.

No evento inaugural do festival, Conferência na Faculdade de Belas Artes do Porto, Christof Migone apresentou alguns dos seus projectos artísticos de áudio, caracterizados por uma abordagem bastante literal ao corpo e ao som e contextualizando-os com as práticas e pensamento da arte contemporânea. Para o artista, qualquer som pode ser percepcionado e interpretado de forma única e no seu trabalho o inesperado é sempre tido em conta, resultando plasticamente como sinónimo de ruptura, desordem e interferência.

Como com Brecht*1, o inesperado e o acaso, são parte fundamental da matéria prima: o som. Os sons acidentais, problemáticos e desconhecidos, provocados por um feedback produzido por meios técnológicos, ou inesperadamente produzidos pelo nosso corpo, são o seu objecto de estudo. O artista sublinhou como no seu trabalho estabelece como que um pacto com a natureza do corpo humano e dos sons que ele produz, tendo como objectivo desafiar a forma como nós, espectadores, os interpretamos e experenciamos. Tendencialmente o público tenta reconhecer nas peças de Migone outros sons para além dos sons que ouvem: identifica-los e associa-los a uma acção ou a um objecto. Sem conseguir identificar a sua proveniência, sentimos uma certa desorientação e desconforto à qual, de forma nervosa, reagimos com um pequena gargalhada.

Na conferência, Migone explicou ainda como, no seu trabalho, pretende subverter as expectativas associadas aos meios de comunicação escrita e falada: não pretendendo comunicar, procura antes, partindo do seu objecto de trabalho, levar ao limite as capacidades tecnológicas inerentes ao media dosom e dos sons que, enquanto seres humanos, somos capazes de produzir. Assumindo os dois factores, corpo e som, Migone explora a relação entre a linguagem e a voz, o corpo e o acto performativo, explorando-as suas potencialidades plásticas e criando peças quase viscerais, como acontece em Evasion (2000)*2.

Em conversa com o artista após a conferência, ficamos a saber que no âmago dos seus projectos se situa o debate entre a relação da imagem textual e o som: a forma como palavras se podem encontrar e associadas ao som, sem recorrer a este para serem ouvidas ou vice-versa.

À conferência de abertura do festival TRAMA seguiram-se duas Performances na via pública: Hit Parade e Hit Maker.

*1 – Referência á teoria do acaso, presente no livro: Chance-Imagery, de Brecht, George.

*2 – Evasion (2000): http://www.christofmigone.com/html/projects_gallery/Evasion.html

Parte da informação especifica relativa ao artista, foi retirada do site do mesmo. (http://www.christofmigone.com/index_cm.html)

Luís Nunes


3 comentários on “Christof Migone | Sonic Somatic: Performances of the Unsound Body”

  1. nome obrigatório diz:

    Cinco parágrafos de “crítica” e o leitor fica sem perceber sequer qual a opinião do autor sobre aquilo que escreve. O mesmo se repete para todas as outras descrições. Paira uma total neutralidade neste projecto e, por consequência, uma falta de sentido crítico.

    • Boa noite “nome obrigatório”, e obrigada pelo comentário. Não fui a autora deste texto, mas já que mencionou o projecto como um todo, gostaria de responder ao seu comentário.

      As opiniões de cada autor podem encontrar-se numa leitura atenta dos textos. O papel de um crítico não é dizer apenas o que pensa, mas também organizar as ideias à volta de cada peça e proporcionar a quem lê uma oportunidade para criar a sua própria opinião – pelo menos assim o entendo.

      Nas críticas que escrevi (Caty Olive, Susana Mendes Silva), dei a minha opinião, que procurei fundamentar; tive a sorte de escrever acerca de peças que me agradaram imenso, mas não queria ser explícita e reduzir o texto à minha opinião, fosse ela positiva ou negativa.

      Mais uma vez, obrigada pelo comentário, todas as críticas são bem-vindas.

    • Ainda que pudesse ser pertinente em geral, a sua observação esvazia-se de sentido quando escolhe como alvo um artigo a propósito de uma conferência, não lhe parece? Mas compreendo e partilho da sua angústia face a certos exercícios críticos tão higienizados que se tornam guias de interpretação, de certo modo. Assim como partilho das inquietações de quem embarca nesta aventura apercebendo-se que, sem guias de interpretação adequados, o exercício crítico mais subjectivamente empenhado se torna irrelevante. Não é nada fácil encontrar o equilíbrio, mas este não seria o melhor artigo para iniciar esta conversa.


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